Por que será que ainda precisamos falar sobre racismo no trabalho?
Muito se fala, por aí, sobre a hospitalidade e a receptividade do povo brasileiro. Somos aqueles que abrem os braços para qualquer pessoa, os recebendo em nosso lar como se fossem parte da família.
Por que será, então, que as ações envolvendo racismo no trabalho não param de crescer?
Em 2022, havia mais de 22 mil ações em curso, sobre o tema, na Justiça do Trabalho.
E o pior: esse número alarmante, provavelmente, não representa nem de perto a realidade de casos vividos em empresas de todo o Brasil ao longo dos anos.
Como, então, combater o racismo no mercado de trabalho? Quais são as medidas que as empresas podem tomar? E, afinal, como reconhecer esse tipo de ocorrência no ambiente corporativo?
Continue a leitura e confira algumas informações sobre o tema!
O que é racismo?
Antes de compreendermos conceitos como o racismo institucional no mercado de trabalho, é preciso definirmos o que é, afinal, esse problema. Conforme a definição do dicionário, racismo é:
“ (…) preconceito, discriminação ou antagonismo por parte de um indivíduo, comunidade ou instituição contra uma pessoa ou pessoas pelo fato de pertencer a um determinado grupo racial ou étnico, tipicamente marginalizado ou uma minoria.”
Em outras palavras, o racismo é o ato de discriminar ou tratar alguém diferente simplesmente por conta da sua origem étnica.
É um problema muito enfrentado pela população preta, mas que também atinge amarelos, indígenas e outros grupos.
Como o racismo no trabalho acontece?
O racismo no ambiente de trabalho é o resultado da discriminação. Que ocorre entre colaboradores ou, ainda, por parte da gestão em relação a alguns membros de sua equipe.
Isso começa desde o momento da contratação. Em vários cenários, os negros não ocupam posições de liderança, por exemplo.
Eles são, ao mesmo tempo, os maiores nas taxas de desemprego e os mais subutilizados no mercado de trabalho.
Os números são ainda piores quando consideramos as mulheres negras, que sofrem racismo e machismo simultaneamente.
Além disso, quase 50% dos profissionais negros sentem que não pertencem ao ambiente de trabalho. Ou seja: o racismo é tão estrutural que faz com que esse grupo se sinta deslocado em um espaço que é seu de direito.
Assim, podemos ver um pouco do impacto do racismo no mercado de trabalho e na vida desses trabalhadores.
Racismo no trabalho é crime?
Sim, o racismo em geral é um crime. E mais: é um crime inafiançável.
Uma das mais recentes adições a todo esse contexto é a Lei 14.532, de 2023, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nela, é adicionada a injúria racial como uma forma de prática racista.
Exemplos de racismo no ambiente de trabalho
Há várias formas de racismo, uma delas é a expressão direta do preconceito.
Como por exemplo, o uso de frases discriminatórias ou até mesmo a exclusão consciente de uma determinada pessoa de atividades, conversas e dinâmicas.
Além disso, considera-se como racismo a implementação de pedidos ou normas que excluem algumas pessoas.
Solicitar, por exemplo, que funcionários cortem ou alisem os seus cabelos para seguirem os “padrões” da empresa é uma forma grave de preconceito.
Há, ainda, a forma velada de racismo. Com ela, a possibilidade de implementação de regras discriminatórias, que podem ou não ser implementadas de forma consciente.
Dessa forma, há menos oportunidades de crescimento ou acesso para as pessoas que se encaixam nos grupos minoritários.
A não-contratação de indivíduos que se encaixam em determinadas etnias também é uma forma de racismo.
Nesse sentido, é de extrema importância que os gestores fiquem atentos a esse ponto. Então, dê uma olhada. Quão diversa é a sua equipe?
Sinais de racismo no trabalho
A partir desse momento, é provável que você esteja pensando como proceder com o racismo no trabalho. O primeiro passo é, sem dúvida, identificar os “sintomas” desse problema.
Assim, é possível pensar em estratégias para solucionar as questões vigentes.
Alguns dos sinais mais frequentes nesse cenário são:
● Uso de estereótipos, como no caso em que profissionais muito qualificados são alocados em vagas que exigem uma qualificação menor por conta da sua etnia;
● Presença de funcionários capazes, com bons resultados, que nunca são promovidos;
● Hostilidade entre gestores e colaboradores ou, até mesmo, em uma mesma equipe;
● Produtividade afetada em profissionais de etnias discriminadas;
● Perseguição a colegas, com piadas, bullying e até mesmo exclusão das atividades;
● Sinais de ansiedade em alguns profissionais, como é o caso de altas taxas de absenteísmo ou isolamento social, entre outros.
Por conta disso, os profissionais do RH devem estar sempre com um olhar atento sobre a equipe, percebendo nuances e detalhes que podem passar despercebidos. Não se esqueça de que o racismo é, muitas vezes, silencioso.
O que o RH deve fazer em casos de racismo no trabalho?
Identifiquei racismo no trabalho! O que fazer? A resposta é simples: agir rapidamente.
Para isso, é fundamental conversar com a vítima da situação, recolhendo sua versão e promovendo um acolhimento a essa pessoa. Ela não deve ser julgada e tampouco exposta.
A instauração de uma investigação é fundamental nesse momento. Com o recolhimento de provas e a observação do dia a dia da equipe.
Dessa forma, é possível verificar não só a veracidade da denúncia, mas também buscar novas informações. E então, pensar em um plano mais eficiente para lidar com o problema.
Por fim, é preciso contactar as pessoas que estão promovendo a discriminação no ambiente de trabalho, já em contato com o setor jurídico da empresa.
Afinal, medidas cabíveis devem ser tomadas de acordo com a lei.
Como resultado, além de medidas para lidar com o racismo que já está instaurado na sua empresa, é fundamental pensar em estratégias preventivas e educacionais.
Logo, com a mudança de valores e o trabalho progressivo, esse ambiente se tornará muito mais saudável e inclusivo para todos.
6 práticas para evitar racismo no ambiente de trabalho
Confira, agora, algumas ideias que podem ser válidas para combater a questão do racismo no ambiente de trabalho. Elas são:
- Criação de um comitê de diversidade, que poderá avaliar e investigar possíveis transgressões, além de desenvolver estratégias educativas e de prevenção dessas situações;
- Realização de palestras e dinâmicas para conversar com os colaboradores e toda a equipe;
- Existência de um serviço de saúde mental, que visa promover acolhimento às vítimas e permitir que mais denúncias sejam feitas;
- Estabelecimento de metas de igualdade racial, com a contratação de grupos discriminados;
- Oferecimento de um canal seguro para que as denúncias ocorram;
- Escolha de lideranças engajadas com a igualdade e a luta contra o preconceito.
Como podemos ver, o racismo no trabalho — e em vários outros setores — ainda é um problema real. Cabe aos empregadores buscar e implementar estratégias que mudem isso de dentro para fora, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e condizente com a fama receptiva do povo brasileiro.
