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6 de julho de 2022

Ambiente Tóxico: Quem Quebra as Janelas?

Neste terceiro texto da série sobre Ambiente Tóxico, vamos nos aprofundar numa segunda reação comum em ambientes que nos causam aversão: lutar.
Neste terceiro texto da série sobre Ambiente Tóxico, vamos nos aprofundar numa segunda reação comum em ambientes que nos causam aversão: lutar.
Tempo de leitura: 5 minutos

Neste terceiro texto da série sobre Ambiente Tóxico, vamos nos aprofundar numa segunda reação comum em ambientes que nos causam aversão: lutar.

Mas essa atitude, voltada à resistência e ao enfrentamento direto ou indireto, tem várias facetas. Embora as vias de fato, ou seja, a luta física propriamente dita, pode não ser algo impossível, é certamente a manifestação menos comum.

Saber interpretar determinados comportamentos corretamente, lendo-os como uma reação de luta em um cenário de Ambiente Tóxico, é essencial para direcionar da melhor maneira as ações de treinamento e desenvolvimento ou de melhorias nos processos.

A Teoria das Janelas Quebradas

Em 1982, James Q. Wilson e George L. Kelling escreveram um artigo (Broken Windows – The Atlantic) na The Atlantic Monthly chamado “Broken Windows”, no qual elaboram a seguinte ideia, em suas próprias palavras, em tradução livre:

“Psicólogos sociais e policiais tendem a concordar que, se a janela de um edifício está quebrada e é deixada assim, em breve todas as outras janelas estarão quebradas também. (…) Uma janela quebrada que não recebe reparos é um sinal de que ninguém se importa, então quebrar mais janelas não custa nada”.

Este artigo chamou bastante atenção na época, pois colocava em palavras um senso comum. Entretanto, a ideia já havia sido abordada antes.

Por exemplo, em um livro (Defensible Space; Crime Prevention Through Urban Design. : Newman, Oscar: Livros — Amazon Brasil) de 1972 de Oscar Newman sobre a relação entre planejamento urbano e prevenção de crimes.

Na obra, ele defende que, em determinada vizinhança, a negligência dos moradores com janelas quebradas é um claro sinal de que a desordem é aceita. Nas palavras dessa nossa série de artigos, o bairro inteiro é um ambiente tóxico. No limite, isso estaria ligado a crimes maiores.

Tal teoria, se comprovada, tem consequências importantes. Assim, naturalmente muito já se escreveu sobre ela, experimentos foram feitos, críticas surgiram, políticas públicas a utilizaram.

Uma ponderação importante é que, em Newman e outros que seguiram essa linha, o fator humano de tomada de decisão é pouco explorado, quando não meramente descrito como determinado: se janelas estão quebradas, mais janelas serão quebradas.

Bom, a maioria de nós já passou por janelas quebradas e nem por isso pegou uma pedra e lançou na intacta janela vizinha para expandir o vandalismo.

Então, quem quebra as janelas?

O Fator Humano no Ambiente Tóxico

Prashan Ranasinghe, um professor de Criminologia na faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Ottawa, argumenta (Jane Jacobs’ framing of public disorder and its relation to the ‘broken windows’ theory – Prashan Ranasinghe, 2012 (sagepub.com)) que a Teoria das Janelas Quebradas está originalmente ligada ao livro clássico de 1961 de Jane Jacobs The Death and Life of Great American Cities (The Death and Life of Great American Cities : Jacobs, Jane: Livros — Amazon).

Em seu artigo, Ranasinghe aponta de maneira enfática como os desenvolvimentos da Teoria falharam ao não abordar o medo e a sensação de falta de controle como fatores fundamentais para o entendimento do fenômeno (novamente em tradução livre):

“O problema para Jacobs, porém, era que as calçadas e ruas não perderam apenas a beleza estética, mas também sua aparência de ordem e controle, levando as pessoas a perceberem sua cidade como insegura e desordenada”

É uma negligência interessante, pois já em 1969 o lendário psicólogo de Stanford, Philip Zimbardo, realizou um experimento utilizando janelas quebradas, além de outros sinais de abandono, em carros (Zimbardo, P.G. (1969). “The human choice: Individuation, reason, and order versus deindividuation, impulse, and chaos”).

Zimbardo descreve este experimento em meios a outros exemplos. Com efeito, em questão de minutos os carros já estavam sendo vandalizados novamente.

Muitos citam esta observação como reforço para a Teoria, o que é uma pena, pois o psicólogo vai bem mais fundo no tema, e está tudo no artigo.

Ele explora a tomada de decisão humana de maneira abrangente, trazendo conceitos fundamentais para entender o comportamento humano em ambientes cuja percepção individual é de ausência de controle.

E é a partir das reflexões de Zimbardo que podemos entender melhor comportamentos de enfrentamento e resistência que se dão em ambientes de insegurança e desordem

percebidas, ou seja, aqueles que de acordo com nosso primeiro artigo podem ser considerados Ambientes Tóxicos.

Enfrentamento Ativo no Ambiente Tóxico

Zimbardo argumenta (através de experimentos, sua marca registrada) que a ação humana é autocontrolada pelo princípio da consistência, ou seja, se vamos nos engajar em um comportamento fora do esperado, é natural criarmos um fundamento racional para essa ação, convencendo primeiramente o nosso “eu-crítico” de que aquilo faz sentido no nosso contexto.

Essa consistência não é um fim em si, mas sim um meio para o indivíduo “controlar” o ambiente, uma proteção contra o caos, contra a imprevisibilidade, contra a incoerência da vida.

Dados os elementos ambientais que alimentem a racionalização individual das ações como justas e corretas, bem como que possibilitem o complexo processo de “desindividualização” (cuja explicação não cabe neste artigo, mas está bem demonstrada em obras como o livro O Senhor das Moscas [Senhor das moscas: Prêmio Nobel de Literatura : Golding, William, Flaksman, Sergio: Livros — Amazon] e o filme A Onda [A Onda – Filme 2008 – AdoroCinema]), o “caldo” que permitirá a emergência de comportamentos deliberados de sabotagem ativa e deliberada está pronto.

No mundo do trabalho, uma empresa que oferece um cotidiano de injustiça, insegurança, agressividade, ou que tenha núcleos de colaboradores que percebam as coisas dessa maneira, está sob sério risco de sofrer ataques internos. A modernidade corporativa trouxe consigo muito mais que cinquenta tons de ludismo – movimento que, segundo Eric Hobsbawn (The machine breakers – Eric Hobsbawm | libcom.org) tinha muito mais a ver com pressionar os chefes do que com uma suposta resistência à tecnologia:

O primeiro tipo [de “destruidores de máquinas”] não apresentava nenhuma hostilidade especial às máquinas como tais, mas sim, sob certas condições, um meio normal de pressionar os empregadores (…) Os luditas de Nottinghamshire, Leicestershire e Derbyshire estavam usando ataques a máquinas, novas ou antigas, como meio de coagir seus empregadores a conceder-lhes concessões em relação a salários e outros assuntos (…) [E] foi dirigido não só contra as máquinas, mas também contra a matéria-prima, bens acabados e até a propriedade privada dos empregadores, dependendo do tipo de dano a que estes eram mais sensíveis.

Como podemos notar, é um cenário complexo e intrincado. Assim, é fundamental ajuda especializada para entender exatamente o que está acontecendo na Companhia e o que fazer para mudar.

Um Diagnóstico e uma Jornada

O IPRC Brasil desenvolveu metodologia própria, unindo a Ciência e a expertise de um time com larga vivência em soluções de risco comportamental, mirando a cultural organizacional.

Oferecemos detalhado diagnóstico organizacional e, mais, indicamos uma sequência de treinamentos recorrentes visando objetivamente os problemas encontrados. Saiba mais sobre a Jornada Comportamental!

Por: Thiago Sant’Anna, leia também Ambiente Tóxico: As Faces da Fuga e Ambiente Tóxico no Trabalho: Os 4 F’S da Reação ao Medo.

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