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21 de novembro de 2022

Consciência negra por um homem branco

“…não se tratava apenas de falar a respeito do assunto e, sim, de refletir se estávamos somente falando, ou se estávamos de fato fazendo algo…”
"...não se tratava apenas de falar a respeito do assunto e, sim, de refletir se estávamos somente falando, ou se estávamos de fato fazendo algo..."
Tempo de leitura: 4 minutos

Era dia 1º de novembro. Na firma estávamos discutindo o que fazer de diferente do ano passado, para falar sobre Consciência Negra.

De repente tive uma “brilhante” ideia! Talvez por estar envolvido com o lançamento do nosso Podcast, pensei em fazer um episódio falando sobre o assunto, de maneira informal, leve e descontraída, mas mantendo a seriedade que o tema pede.

“Poxa, vou jogar a ideia no grupo de WhatsApp – pensei eu –, assim já podemos discutir a pauta, definir se seria um episódio rotativo e quem poderia participar…Afinal, quanto mais gente melhor.”

Para a minha surpresa: Cri, cri…. nenhuma resposta no WhatsApp. Eram 16h53 da véspera de um feriado. Talvez o pessoal já tivesse #terçado. Então, fechei o grupo e deixei para falar sobre o assunto na reunião de quinta-feira. Acho que não foi uma ideia tão “brilhante” assim.

Na quinta-feira de manhã, em um encontro virtual com a equipe, descubro que realmente não foi.

Ouço comentários de um lado e de outro. O saldo da conversa foi que não se tratava apenas de falar a respeito do assunto e, sim, de refletir se estávamos somente falando, ou se estávamos de fato fazendo algo, agindo todos os meses do ano.

Claro que, na minha opinião, é importante, sim, aproveitar o mês em que há um dia dedicado ao assunto. Não por haver uma obrigação de falar sobre o tema naquele dia, mas para aproveitar um momento em que, talvez, as pessoas estejam mais abertas a esse tipo de reflexão.

Aliás, você sabe o porquê do dia da Consciência NegraO que aconteceu em 1695? Por que dia 20 de novembro? Sabia que só em 2011 essa data foi oficializada federalmente, mesmo sendo definida em 1978? Enfim, se não sabe, não tenha vergonha, dê uma pesquisada. Hoje o acesso à informação está muito mais fácil, só tome cuidado com as fake news.

Voltando….

Legal, percebo que durante a reunião estamos caminhando para algum lugar. Isso é o bom da diversidade, muitos pontos cegos podem ser sanados quando, em conjunto, discutimos ideias e possibilidades.

Fica claro na nossa conversa que não se trata de falar, muito menos de colocar o texto de uma pessoa preta para falar de Consciência Negra. Inclusive no ano passado, isso já havia sido discutido.

Mas voltando à conversa, de maneira informal, um checklist vai sendo “criado”. Digo criado entre aspas, pois ninguém anotou nada, mas, na minha cabeça, perguntas foram sendo colocadas no formato de lista.

Algumas perguntas como:

“Será que só devemos pensar em trazer minorias para falar de temas relacionados ao esse seu público?”

“Quando pensamos em assuntos diversos, geralmente consideramos as minorias?”

“O que estamos fazendo com relação a isso?”

“Temos no nosso radar alguns representantes de todas as classes quando queremos falar dos milhares de assuntos que envolvem riscos comportamentais?”

Essas e outras perguntas vão sendo trazidas à tona, fazendo com que todos olhassem para dentro. Pois não se trata de uma responsabilidade individual, e sim, coletiva.

Independentemente de posição de cada um dentro da organização, é importante que todos tomem para si o papel de parte da transformação, senão continuaremos com ideias cheias de significados, mas sem ação e, consequentemente, sem resultados.

E aí surge a pergunta: por que uma pessoa branca não escreve no dia da Consciência Negra? Tundum… Foram alguns segundos de silêncio, não dá para falar que todos olharam para os lados, pois estávamos remotamente conectados. Estava lá um convite para mim, que não sou da escrita, falar sobre isso.

Primeira reação: “Tá bom, vou fazer esse texto!”

Primeiro pensamento: “Que porra você está fazendo, Marcelo? Quem é você para falar sobre esse assunto?”

Logo perguntei aos colegas o que eu poderia abordar em meu texto. Hoje em dia dá medo de falar sobre temas tão delicados, principalmente não fazendo parte do grupo em questão.

A partir disso recebo três orientações.

1ª orientação:

Não tome o lugar de uma pessoa preta para se manifestar a respeito!”

Bom, essa tá fácil.

2ª orientação:

Não fale sobre um sentimento que você ache que o outro sinta, pois você nunca esteve e nem estará nesse lugar!”

Falar sobre esse tema é um caminho muito difícil para quem não faz ideia do que é passar por todos os preconceitos, obstáculos e porradas, que a vida, ou melhor, as pessoas impõem às minorias.

Eu sou uma pessoa que não faz parte das minorias. Em um primeiro momento comentei que não sabia nem por onde começar, e nem o que falar. A chance de eu falar alguma merda besteira era muito grande. E não digo isso com medo de ser cancelado, pois nem sou famoso. Mas, sim, com medo de ofender, sem intenção, porém talvez por falta de conhecimento e por um racismo estrutural que, infelizmente, temos dentro de nós.

Não posso tentar adivinhar como é estar nessa pele que está longe de ser a minha. Mas posso me informar, conversar, ler a respeito e olhar para dentro de mim mesmo e para os lugares de que faço parte, para observar se há algo que eu possa fazer para melhorar esse contexto. E, no final, sempre há.

Recentemente conversando com a minha esposa sobre alguns trechos do livro “Olhares Negros: Raça e Representação”, da autora bell hooks, me vez entender que o tema é muito mais profundo do que a maioria das pessoas imagina.

Um dos pontos tratados no livro, por exemplo, é como a ideologia e a prática da escravidão moldou a sociedade, o olhar, as manifestações e produções culturais. Realmente o buraco é muito mais embaixo…

É olhar primeiro para a equidade, antes de pensar em igualdade. É entender que existem heranças, é olhar para dentro de todos os nossos pré conceitospré-conceitos estruturais. Talvez com um olhar mais amplo, com interesse e uma mente aberta, seja possível deixar de olhar de maneira superficial e ser parte de alguma transformação.

Precisamos de muita conversa, muita reflexão e conscientização para apenas começar a entender alguma coisa.

E a terceira e última orientação foi:

“Escreve com o coração, sempre dá certo.”

Bom, espero ter seguido as orientações direitinho, professora Roberta.

Existe uma frase, ou melhor, uma pergunta que Sigmund Freud fez a uma paciente: “Qual a sua responsabilidade na desordem de que você se queixa? “

Homer Simpson, personagem idolatrado pela minha geração, talvez respondesse com sua célebre frase: “A culpa é minha e ponho ela em quem eu quiser!”

Brincadeiras à parte, prefiro adaptar a frase de Freud para:

“Qual é o nosso papel na transformação que desejamos?”

Por Marcelo Vieira

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