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11 de agosto de 2022

Entre o Certo e o Fácil

Nas últimas semanas uma série de casos que envolveram pessoas corajosas, que decidiram denunciar mesmo sob risco, vieram à tona nos noticiários.
Nas últimas semanas uma série de casos que envolveram pessoas corajosas, que decidiram denunciar mesmo sob risco, vieram à tona nos noticiários.
Tempo de leitura: 3 minutos

Um velho ditado diz que coragem não é ausência do medo, mas o que fazemos apesar do medo. Não sei a origem.

Sei que Nelson Mandela escreveu algo parecido em sua autobiografia, “Longo Caminho para a Liberdade”, quando definiu o “homem corajoso” como aquele que “conquista o medo”, não o que não tem medo.

A ideia também está em Confúcio e outros pensadores.

A força desta ideia está em trazer para o mundo real e para a tomada de decisão pessoal o que fazer quando se sabe que determinada ação é a correta, mas o medo está lá, presente.

Até porque, em algumas situações, não ter medo seria uma insanidade. Falamos disso em textos anteriores.

Nas últimas semanas uma série de casos que envolveram pessoas corajosas, que decidiram denunciar mesmo sob risco, vieram à tona nos noticiários.

Pessoas comuns observaram algo errado acontecendo e coletaram evidências para fazer a denúncia.

Não fossem elas, não saberíamos o que estava acontecendo na sede da Caixa Econômica Federal, nos partos conduzidos pelo criminoso anestesista, entre outros muitos casos.

A nossa sociedade tem a violenta tradição de desacreditar mulheres, de fazê-las percorrer repetidamente o sofrimento, em ciclos, para, em geral, não fazer justiça.

Um convite à desistência, enviado para cada mulher vítima de algo que, para muitos, parece nem ser crime.

Em nenhum outro crime buscam tanto uma forma de achar a culpa da vítima, ao invés de responsabilizar o criminoso, do que no assédio sexual.

É absolutamente compreensível – e triste – que a opção de “lidar com tudo sozinha e deixar passar” seja tão comum.

Mas, com frequência, esse contexto social deixa os assediadores tranquilos, soltos. E descuidados. Com uma frequência muito alta nas investigações corporativas de assédio, eventualmente surgem testemunhas que possuem detalhes importantes, evidências relevantes.

Também não é incomum que o primeiro dominó seja derrubado não pela vítima, mas por alguma testemunha que resolve agir e denunciar.

Mas o que impede que mais pessoas façam isso, denunciar um abuso que testemunhem? Por que tantos casos só vem à tona depois que muitas pessoas já foram vitimadas?

São várias as razões, e elas podem acontecer concomitantemente. Em situações iniciais, é comum encontrarmos claros casos de dissonância cognitiva.

Para mantermos nossa sanidade mental, buscamos continuamente gerar coerências entre nossas crenças e nossas ações.

Quando ocorre algo que brutalmente expõe a incongruência entre o que se acredita ser certo e o que se pratica, temos a tendência de reorganizar nossa percepção da realidade para manter a ilusão da coerência.

Então é assim: aquela mulher está sofrendo com as ações daquele homem e eu sei que isso está acontecendo.

Quando eu vejo notícias ou filmes, eu defendo que o certo seria “alguém fazer alguma coisa”.

Porém, fazer alguma coisa traz consequências. Posso iniciar um caos, posso sofrer retaliação, pode não dar em nada, vários et ceteras, todos com algum grau de risco, todos trazendo alguma dor de cabeça.

Mas fique tranquilo, a dissonância cognitiva vai te proteger, a racionalização virá: “ela deu abertura”; “se ela não gostasse, ela denunciaria”; “eu não tenho certeza de que isso está mesmo acontecendo, apesar de tudo ele pode ser inocente”.

Um personagem fictício e já clássico da literatura define bem a questão.

Alvo Dumbledore explica para Harry Potter que, na maioria das vezes, o protagonismo não está em decidir entre “o certo e o errado”.

A História acontece quando alguém age mesmo diante da oportunidade de se manter neutro. O que há de pior no mundo é combatido na saída da neutralidade, sempre mais fácil, pois aquilo que faz o mal já está posto.

Na pena de Rowling: “Daqui a um tempo nós teremos que escolher entre o que é certo e o que é fácil.

Mas, como sabem, pode-se encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se a pessoa se lembrar de acender a luz”.

Não é sobre fazer justiça com as próprias mãos. É sobre buscar os canais adequados para denunciar o que está errado. As enfermeiras que filmaram o anestesista se arriscaram.

Talvez seus empregos ainda estejam em risco, com seus futuros algozes apenas aguardando “a poeira baixar”. Os funcionários da Caixa se arriscaram, e talvez também ainda estejam em risco.

Mas o que testemunhavam não podia continuar, e continuaria caso não fizessem nada.

Seria mais fácil fingir que não viu, desviar, sempre poderiam dizer que “estavam tão concentrados no trabalho que não se deram conta”. Mas não seria o certo.

Há uma espécie de papel social nisso, de cuidarmos um dos outros, pois há também um componente egoísta de autoproteção em fazer a denúncia.

Pois, como escreveu Coetzee: “Por que deveria ser inconcebível que o monstro que pisou em cima deles pise em cima de mim também?”

Por: Thiago Sant’Anna

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